Na quietude da Basílica de São Pedro, os ecos dos passos revelam mais do que a história.
Antes da Basílica de São Pedro
A história da basílica de São Pedro tem início no século I d.c. O local onde está atualmente situada a Cidade do Vaticano, era uma área exposta constantemente as inundações do rio Tibre, por isso manteve-se destinada à pastagem e à agricultura, porém com o avanço das ruas adjacentes a famosa via Cornélia e a via Trionfale, o ager vaticanus tornou-se uma zona residencial composta pela elite romana e era caracterizada por edifícios, becos, cemitérios em ruínas e casas de campo com extensos jardins, como a propriedade pertencente a Agrippina Maggiore, herdada devido ao falecimento de sua mãe em 33 d.C.
Dentro do Horti de Agrippina havia também um circo privado com cerca de 500 metros de comprimento e 100 metros de largura A construção foi iniciada por Calígula, mas após sua morte em 41d.c, Nero assumiu o império e consequentemente concluiu a obra. O espaço foi criado com o intuito de entreter a família e foi neste local que Calígula, em seu reinado, colocou como enfeite no centro do circo um obelisco em torno de 40 metros de altura, importado do Egito, o monumento é a única coisa restante daquela época e hoje adorna a praça de São Pedro. Antes de fazer parte do circo, o obelisco decorava o Mercado de Júlio, no Egito.
Circo de Nero
Com capacidade para 20.000 pessoas, o circo tinha, sobretudo, a função de hipódromo, haviam também corridas de carruagens, execuções de pessoas – como a de São Pedro -, grandes comemorações, etc. Normalmente a autoridade comparecia aos espetáculos apenas com sua corte, porém, em ocasiões especiais o circo era aberto à população romana.
Aborrecido com a classe nobre, Nero trabalhou dentro do império para ganhar a confiança e a simpatia das pessoas menos ricas. Com isso as oportunidades para o acesso ao circo aumentaram, Nero teve a ideia de implantar atrativos, como por exemplo, a criação de muitos eventos comemorativos, shows e corridas, onde em algumas ocasiões especiais o próprio participava e tocava lira.
Na noite entre os dias 18 e 19 de julho, a cidade viveu um dos eventos mais tristes conhecido como o grande incêndio de Roma (64 d.c.) e diferentemente do que muitas fontes relatam, não foi provocado pela então governante, que até abriu as portas da sua propriedade para as desabrigadas. O fato de não ter havido esforço suficiente para parar o incêndio irritou o público, levando a uma caçada as responsáveis pelo acidente e as cristãs condenadas e perseguidas durante os anos seguintes. A execução dos primeiros mártires, incluindo o apóstolo Pedro na época, ocorreu ao norte do circo na colina do Vaticano.
Após a morte de Nero, Vespasiano Augusto quis pôr um fim as atrocidades cometidas no circo, então teve a ideia de fechar, consequentemente o local ficou abandonado. Depois de um período, o terreno foi distribuído para quem quisesse comprar e construir sepulturas para si e sua família. Inicialmente as tumbas eram pagãs e foram utilizadas por escravas libertas que conseguiram juntar dinheiro para adquirir, mas a medida que a religião cristã foi crescendo, as tumbas pagãs se juntaram também com as tumbas cristãs. Após o Édito de Milão em 313, o imperador Constantino ordenou que uma basílica fosse construída, onde o apostolo Pedro foi martirizado, e para isso, com grande custo, a área foi soterrada.
Antiga Basílica de São Pedro
As obras da antiga basílica de São Pedro que Constantino mandou erguer tiveram início entre os anos 319 e 326 durante o pontificado do Papa Silvestre I e foi inaugurada no dia 18 de novembro de 333. A catedral apresentava um pórtico quadrangular, possuía 5 portas e cada uma tinha um significado diferente, sendo elas:
- 1 – Porta Ludicii ou Portão do Julgamento: era por onde passavam os cortejos funerais;
- 2 – Porta Ravenniana: apenas residentes que viviam fora do Tibre (civitus ravennatium) podiam entrar por ela;
- 3 – Porta Argentea: recebeu este nome por estar coberta com peças de prata postadas por Gregório I. Esta porta era aberta apenas ocasiões especiais;
- 4 – Porta Romana: destinada apenas a população romana;
- 5 – Porta Guidonia: reservada a turistas e peregrinas.
O antigo templo tinha cinco naves distribuídas entre 21 pilares, cada um com 110 metros de comprimento e 30 metros de largura. As colunas que separavam o altar e a nave foram construídas a partir dos pilares do templo de Jerusalém, trazidos por Constantino.
No seu centro, sob um cibório, erguia-se uma enorme pinha dourada. Entre esse espaço e a entrada principal da igreja existia uma área verde chamada de Jardim do Paraíso, construída no século VI. Nos fundos havia uma porta que dava acesso ao prédio comercial, biblioteca, escritório, etc.
O interior era bastante decorado principalmente por mosaicos, muitos dos quais se perderam; foram transferidos para outros locais ou distribuídos entre museus.
Nos primeiros séculos da idade média, devido a sua importância e grandiosidade, foi escolhida pelos bispos de Roma como seu assento de trono.
No dia 25 de dezembro de 800 o rei franco Carlos Magno foi coroado imperador pelo Papa Leão III, posteriormente em 846 na raide árabe contra Roma a igreja foi atacada.
Já no século XV Bernardo Rossellino, Leon Battista e Alberti trabalharam na renovação da basílica.
Niccolo V foi o primeiro papa a decidir demolir a antiga Basílica de São Pedro para projetar uma maior e mais solene, isso porque a estrutura encontrava-se em ruínas por falta de reparos e manutenção. O processo de demolição foi realizado em dois períodos e duas partes, auxiliadas com a construção de uma parede transversal que dividiu a igreja no meio, para que, enquanto um lado estivesse sendo demolido e reconstruído, no outro as atividades religiosas continuassem acontecendo em sua normalidade.
A antiga igreja foi demolida no século 16. Demorou 120 anos e 22 papas reinaram até a conclusão da construção atual. Essas obras duraram de 1506, sob o comando de Júlio II, até 1626, quando foi consagrada por Urbano VIII.
Basílica de São Pedro
A reconstrução da atual igreja começou em 1452, mas com a morte do pontífice Nicolau V em 1455, a obra foi abandonada por mais de 50 anos, e a desmontagem completa da antiga igreja ainda não tinha sido concluída.
No dia 20 de abril de 1506 o papa Júlio II colocou a primeira pedra da construção da basílica de São Pedro e ainda concluiu a demolição da basílica Constantina.
A igreja foi originalmente projetada por Donato Bramante e seria construída em forma de cruz grega, no entanto, após sua morte em 1514 o projeto foi remodelado.
Um grupo formado por Giuliano da Sangallo, Giovanni Giocondo e Rafael redesenhou o projeto, uma cruz latina com três naves, sendo que na cruz haveria uma cúpula sobre o altar, alinhada com o túmulo de São Pedro.
Com a morte de Rafael em 1520, Andrea Sansovino, Baldassare Peruzzi e Antônio da Sangallo assumiram o projeto e 7 anos depois, além de seguir algumas ideias de Bramante, Antônio obteve total autonomia para dirigir as obras da Basílica de São Pedro. Com sua morte em 1546, Paulo III pediu que Michelangelo fosse o novo arquiteto chefe, sendo o responsável pela cúpula, abside e transepto, a obra estava quase toda concluída quando ele faleceu em 1564.
Após a morte de Michelangelo as obras ficaram paradas por quase 25 anos, foi quando Sisto V contratou Pirro Ligorio e Giacomo Vignola para tomarem o posto de arquitetas principais e completarem a cúpula. Posteriormente, no ano de 1593, Domenico Fontana construiu sobre a enorme cúpula o lanternim e a cruz, com isso o edifício foi elevado a uma altura de 138 metros.
Entre tantas idas e vindas durante quase 150 anos de construção, o Papa Urbano VIII celebrou o novo espaço pela primeira vez em 1611, enquanto que em 1615 a grande nave já era considerada finalizada. Com o impulsionamento das obras da fachada, no dia 18 de novembro de 1626, Urbano VIII sacramenta a construção com sua consagração.
A basílica tem 150 metros de largura e 220 metros de comprimento, pode comportar mais de 60.000 pessoas e abriga 45 altares e 11 capelas, além de possuir uma quantidade enorme de obras de arte. Ao contrário do que as pessoas pensam, a basílica de São Pedro não é uma catedral, pois não tem bispo, a sede oficial do papado fica na Arquibasílica de São João do Latrão. Devido a sua grandiosidade e proximidade com a residência do Papa, a maioria das cerimônias papais são realizadas lá.
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